a proposito.. hj acaba o horario de verao...
voltaremos os relogios uma hora.
beleza... agora qdo eu acordar as 5:30 da manha pra ir pro parque ja vai estar claro!
ZeroK
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Saturday, February 15, 2003
Imagem retirada daqui:
O que realmente significa a guerra no Iraque.
"Bush e Saddam x Iraque e o mundo".
Pedro Doria - publicado em "No Minimo" de 14/02/2003
14.Fev.2003 | Há uns três anos que as peças começaram a se
encaixar no tabuleiro desta guerra que se aproxima.
Trapalhadas diplomáticas, erros estratégicos, umas doses
de sorte e outras de azar acabaram atropelando o dólar,
moeda franca do mundo e sobre a qual repousa a
economia, motivando os EUA à uma guerra arriscada. Vale
muito esta guerra. Vale a sobrevivência daquilo mais caro à
sustentação dos Estados Unidos: sua própria moeda. Mais
que mísseis ou gases, é o euro a maior arma do Iraque.
Nesta história, são três os personagens principais:
Hugo Chávez, militar de origem indígena, católico, eleito
presidente venezuelano em 1999. Saddam Hussein,
muçulmano sunita, ditador sanguinário do Iraque
desde 1979. E George W. Bush, cristão renascido pelos
braços do pastor Billy Graham, eleito presidente dos EUA em
2000 porque a Suprema Corte decidiu que, mesmo
considerando a necessidade de recontar os votos na Flórida,
mais importante era respeitar os prazos eleitorais.
No dia 6 de novembro de 2000, véspera da eleição
presidencial nos EUA, o Iraque mudou a moeda com a
qual operava suas vendas de petróleo: saiu o dólar,
entrou o euro. O país sofria pesadas sanções impostas pela
ONU desde 1991, quando saiu derrotado de uma guerra que
Saddam tinha atiçado ao invadir o Kwait. A economia do
Iraque depende, vive, sobrevive da venda de petróleo.
Detém a segunda maior reserva mundial. De acordo com a
sanção, a venda do combustível bruto era permitida
desde que o dinheiro fosse investido em causas sociais.
Mais especificamente, em comida.
Naquele novembro há pouco mais de dois anos, o Iraque
tinha bloqueados sob o olho vigilante da ONU, numa conta
em Nova York, 10 bilhões de dólares, ou 15% de seu PIB -
0,1% do PIB norte-americano. A conversão das vendas
futuras para o euro foi vista como uma pirraça sem
sentido. Se tinha o objetivo de seduzir os países europeus
a comprar mais petróleo, conseguiu apenas em parte.
Do ponto de vista financeiro, era uma besteira: a moeda
européia valia 82 centavos de dólar. O preço da
conversão foi alto e o Iraque perdeu dinheiro. Para Saddam,
pouco importava. Em meados de 2001, vendeu os 10 bilhões
de dólares de reservas e trocou-os também por euros. Só
que aí veio o 11 de setembro e uma de suas
conseqüências foi o crescente fortalecimento da
moeda européia. A operação de troca de moeda terminou
sendo imensamente lucrativa.
Dinheiro, muito dinheiro
Petróleo: o maior negócio do mundo. Todo dia são
gastos 2 bilhões de dólares com o combustível. Nas
previsões mais otimistas, há petróleo para mais um século.
Aí acaba.
Um quarto disto é consumido pelos Estados Unidos
apenas. No país que consome mais energia do mundo,
40% correspondem a petróleo. Invernos frios e verões
quentes, o hábito de adotar carros cada vez maiores
por parte da classe média, todos são ingredientes numa
conta que só faz aumentar o consumo ^Ö pequenos confortos
que a população não pretende perder. Lá, são 20
milhões de barris por dia ao preço, em janeiro, de 28
dólares a unidade.
Mas não é o petróleo que banca a festa, é o dólar. A
balança comercial dos EUA é deficitária ^Ö só agora
em fevereiro, ficou negativa na brincadeira de US$ 31,5
bilhões. A partir de 1995, o investimento do
americano médio em imóveis, na casa própria, foi ultrapassado
por aquilo que esse mesmo americano médio jogou na Bolsa
de Valores. Em última instância, é um investimento
no dólar. Só que acaba sendo um investimento seguro,
apesar de o país ser deficitário, porque o dólar é a
moeda corrente do mundo. O Fed, Banco Central dos EUA,
dita as regras que regem a economia global. Dólar tudo
quanto país usa porque assim se dá o comércio
internacional.
De todos esses negócios, o petróleo é o maior - e os
EUA não controlam quem o vende.
No dia 12 de agosto de 2000, um garboso Saddam
Hussein ofereceu ao presidente venezuelano Hugo Chávez
um tour guiado pelas ruas de Bagdá. Exatos quatro
meses antes de a Suprema Corte decidir pela eleição da
dupla Bush e Dick Cheney. Chávez era o primeiro
chefe-de-estado a visitar o Iraque desde o início
das sanções da ONU e as imagens de Saddam ao volante com
o militar venezuelano no banco do carona fizeram a
festa das tevês. Para aqueles que assumiam o poder nos
EUA, dois ex-executivos de multinacionais petroleiras e
notoriamente conservadores, Chávez fazia uma figura
preocupante. Simpatizante do castrismo de Cuba e
atrevido demais na questão do petróleo.
Em abril de 2002, um golpe contra a presidência
venezuelana foi rechaçado em dois dias. Na melhor
das hipóteses, os golpistas encontraram no governo
norte-americano um aliado de primeira hora. A
diplomacia dos EUA soube do golpe frustrado antes e nada fez
para evitá-lo. Desconfia-se que a CIA esteve envolvida,
como nos velhos tempos. Filiada à Organização dos Países
Exportadores de Petróleo, OPEP, a Venezuela responde
por uma conta que variou, nos últimos anos, de 13% a 15%
do petróleo importado pelos EUA - 1,6 milhão de barris por dia.
O resultado da trapalhada diplomática que sucedeu à
volta de Chávez ao poder foi uma crise sem precedentes que
culminou na greve geral. Quando a companhia estatal
de petróleo PDVSA parou, os EUA viram-se sem ter de
quem comprar. Ou tinham: opção nada agradável, o Iraque.
Bush havia cortado as importações do combustível
iraquiano desde sua posse, pouco após Saddam ter feito a
conversão de moeda. Mas, antes, havia opção. Num
mercado de petróleo em alta e dólar em queda, os EUA
voltaram-se nos últimos meses para o Iraque. Em
dezembro, compraram 925.000 barris por dia; agora em
janeiro, 1,15 bilhões.
Pagaram em euros.
Moeda franca.
Seria tudo um inconveniente financeiro para o país
de George W. Bush e um profundo suor frio para o resto
do mundo que, como o Brasil, depende da saúde do dólar,
não estivesse o Iraque apontando uma tendência. No
ano passado, o Irã queimou boa parte dos dólares que
compunham as reservas de seu Banco Central. Em
parte, foi uma resposta política à inclusão do país no Eixo
do Mal de Bush. Foi também uma operação coerente do ponto
de vista econômico. Trata-se do maior produtor de gás
natural do mundo, além de exportador de petróleo.
Lá, está sendo discutida seriamente a possibilidade de
converter suas vendas, ao menos para a Europa,
também para euros.
Durante 2002, executivos da OPEP começaram a
discutir seriamente a transferência de seus negócios para a
moeda européia. Chávez fala disso a toda hora. Quando
novos países aderirem à Zona do Euro, nos próximos cinco
anos, o PIB da região somará quase 10 trilhões de dólares,
equivalente ao dos EUA. Quando a Inglaterra
abandonar sua libra, algo que os analistas consideram questão
de tempo, o Banco Central Europeu vai se sobrepor ao
FED norte-americano em volume de riqueza numa única moeda.
E, em todas estas transações, é o petróleo que se
encontra no centro da mesa. Se os petrodólares forem
substituídos por petroeuros, pela primeira vez desde
o fim da Segunda Guerra Mundial a moeda franca
internacional mudará. Será o caos, mas o planeta se acomoda.
Quem perde, no fim, são os EUA.
Quando Gerard Schroeder, da Alemanha, e Jaques
Chirac, da França, opõem-se à guerra contra o Iraque, sua
menor preocupação são seus eleitorados internos. Da mesma
forma, Bush e Tony Blair, do Reino Unido, têm outras
preocupações. É o controle econômico mundial que
está em jogo. Plantar um governo leal aos EUA no Iraque e
ampliar o controle sobre o Oriente Médio enfraquece,
em última análise, a OPEP. Em defesa do dólar.
É um jogo perigoso o que se inicia, um que periga
ter conseqüências mundiais muito mais sérias do que as
largadas pela justa guerra contra o Talibã afegão.
King Jong Il, ditador norte-coreano, já fez sua parte.
As reservas de seu Banco Central estão em euros.